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O Guerreiro
Publicado em março 30, 2013por L.
F. Barbosa Silva
Hail, Heroes!
Hoje iremos estudar o arquétipo
do Guerreiro. Caso você ainda não esteja familiarizado ao conceito de
arquétipo, recomendo, para uma melhor compreensão, que leia o texto Introdução
ao Monomito e à Arquetipologia antes de prosseguir.
O culto ao arquétipo do guerreiro
está presente em todas as formas de mitologia e religiosidade. Atributos como
força, agressividade, coragem e persistência são aspectos inerentes aos seres
humanos e extremamente necessários para a sobrevivência. Sobretudo nas épocas e
nos lugares onde a qualquer momento a sua vila poderia ser invadida por uma
horda bárbara. Se você quisesse manter a sua cabeça no lugar era melhor saber
como manejar uma espada ou uma lança.
A arma de guerra mais primitiva
da qual temos conhecimento é a lança. Evidências arqueológicas encontradas na
Alemanha, provam que lanças de madeira eram usadas para a caça e pesca há cerca
de 400 mil anos. É provável (e lógico) que esse tipo de artefato também fosse
usado em combates e na defesa de território. Estudos sugerem que essa
tecnologia foi desenvolvida pela primeira vez há 500 mil anos por indivíduos da
espécie Homo Heidelbergensis, ancestrais do Homo Sapiens e do Homo
Neanderthalensis, sendo estes os primeiros a fabricar lanças com pontas de
pedra há cerca de 300-250 mil anos.
As primeiras espadas começaram a
ser desenvolvidas na Era do Bronze, por volta do terceiro milênio antes de
Cristo. A arma mais antiga parecida com uma espada foi encontrada na região de
Arslantepe, Turquia, em 3.300
a .C., no entanto é geralmente considerada uma espécie de
adaga longa. Espadas de bronze eram raras e não muito práticas, uma vez que
quando mais longo, mais o bronze tende a se curvar. Na China a produção de
espadas começa na Dinastia Shang (1600 a .C. – 1046 a .C.) e a tecnologia de
manufatura em bronze alcança seu auge
nas guerras entre os estados na Dinastia Qin (221 a .C. – 207 b.C.), sendo
substituída pelo ferro somente da Dinastia Han (206 a .C. – 220 d.C.). Ainda
na Era do Bronze, machados começaram a ser introduzidos como arma de
infantaria, sendo usados principalmente quando se sabia que o oponente vestiria
armaduras pesadas. O uso de ferro nas
armas de guerra tornou-se comum durante a Antiguidade Clássica. A espada grega
Xiphose a Gladius romana são exemplos de espadas do período. Só na Idade Média
espadas de aço temperado começaram a ser fabricadas, se popularizando a partir
do século X na Europa e na Escandinávia. Nessa mesma época as espadas japonesas
começam a ganhar sua forma definitiva de manufatura no período Jokoto (900 a .C.), embora o nome
Katana só venha a ser usado pela primeira vez no século XII. E assim a espada
foi evoluindo até chegarmos aos Sabres de Luz dos Cavaleiros Jedi. Pra quem
quiser saber mais sobre a história da espada, esgrima e forja eu recomendo o
documentário Reclaiming the Blade.
Me alonguei um pouco falando
sobre a história do desenvolvimento da espada porque, afinal, esta arma é o
maior símbolo do herói guerreiro. A espada é o símbolo de que o Guerreiro tem o
poder de proteger, de governar e de destruir qualquer obstáculo que se coloque
em seu caminho. A espada tem o poder sobre a vida e a morte. Poder que deve ser
utilizado com muita sabedoria e responsabilidade. Por isso é comum em todas as
épocas e lugares que os guerreiros mais importantes e os oficiais dos exércitos
fossem instruídos não só nas artes da guerra, mas também em filosofia,
história, religião, geografia, economia, eloquência e legislação. Ou seja,
todas as artes necessárias para manter a ordem e conduzir o estado. É comum que
os Deuses da Guerra também sejam Deuses das Leis e da Estratégia. Stratos em
grego significa “Exército” e Agos significa “Liderança”. Desse modo vemos que,
para superar as dificuldades, o guerreiro não utiliza somente a força bruta,
mas também seu poder de raciocínio para organizar o seu método de ação e
utilizar seus recursos com a maior eficácia possível.
Vamos conhecer algumas divindades
de mitologias distintas que representam simbolicamente o arquétipo do
guerreiro.
Ares, era o Deus Olímpico da
Guerra, mas durante a antiguidade na Grécia seu culto era mais associado à
Batalha em si. Sendo
os trâmites legais, a diplomacia e a estratégia atributos de Atena. Enquanto
Atena era invocada pelos políticos e estrategistas, Ares era invocado pelos
generais e pelos soldados no campo de batalha.
O equivalente romano para o Ares
grego é Marte. No entanto o Marte romano também tinha outros atributos além do
poder de destruição. Era também considerado um Deus da agricultura, da
fertilidade e da virilidade. Enquanto o Ares grego era visto somente como um
guerreiro bruto e excessivamente violento, o Marte romano era visto como uma
deidade mais sublime. A estratégia e as leis também faziam parte dos seus
domínios. Para os romanos Marte era o segundo Deus mais importante, depois de
Júpiter.
Ainda em Roma temos o culto à
Mithra, uma divindade solar persa que viria a ser adotada pelos romanos. O culto
iniciático dos mistérios de Mithra se difundiu amplamente entre os militares.
Na Mitologia
Nórdica/Germânica/Escandinava podemos colocar Thor e Tyr como os principais
Deuses associados à batalha e à guerra. Thor é o Deus do Trovão, do Relâmpago,
das Tempestades, do Carvalho, da Cura e da Fertilidade, sendo também
considerado o protetor da raça humana, pois é o responsável pela destruição dos
gigantes. Tyr é o Deus da Lei, da Glória na Batalha e do Heroísmo, por ter
sacrificado sua mão direita para que o lobo Fenrir pudesse ser aprisionado.
Numa tentativa de sincretizar os Deuses Romanos com os Deuses Germânicos,
Tacitus comparou Odin com Mercúrio, Thor com Hércules e Tyr com Marte. Mas o
fato é que na hora da batalha os guerreiros nórdicos invocavam essas três
divindades com clamor pedindo proteção, força e vitória.
Divindades femininas relacionadas
à guerra também são comuns. Além da já citada Atena dos gregos, temos na
Mitologia Nórdica as Valquírias, que decidiam quais soldados viveriam, quais
morreriam e aos quais seria permitida a entra em Valhalla. No Egito ,
Sekhmet, a Deusa Leoa da Guerra e da Cura, também considerada uma Deusa Solar,
conta-se que sua respiração criou o deserto. Na Mitologia Celta temos
Morrighan, Senhora dos Corvos e dos Lobos, que é frequentemente associada à
morte violenta e à batalha.
Na Mitologia Africana o arquétipo
do guerreiro é representado por Ogum, Orixá do Fogo, dos Metais e das Lutas.
Considerado aquele que executa as leis divinas.
Nas mitologias orientais é comum
o culto aos ancestrais. Além dos Deuses que geralmente representam forças da
natureza antropomorfizadas, vemos com frequência o culto a guerreiros que
viveram entre os humanos e que após a sua morte ascenderam à níveis divinos.
No Japão, existe o culto a Hachiman,
Protetor dos Arqueiros e dos Guerreiros. É um culto que mescla a religiosidade
xintoísta e budista, entre os budistas ele é cultuado como um Bodhisatva, um
Iluminado. Hachiman era um ancestral do clã Minamoto. Seu nome era Minamoto no
Yoshiie, mais tarde adotou o pseudônimo de Hachiman Taro Yoshiie. Graças a sua
capacidade de liderança e o poder militar que alcançou, tornou-se conhecido e
admirado por todos, sendo homenageado nos rituais xintoístas de culto aos
ancestrais. Quando Minamoto no Yoritomo tornou-se shogun, a popularidade de
Hachiman cresceu entre a classe samurai, sobretudo entre os guerreiros que
serviam diretamente ao shogun. Mais tarde seu culto se espalhou por todo o
Japão, sendo invocado não só por guerreiros, mas também por camponeses que
buscavam sua proteção. Hoje existem 25 mil templos xintoístas no Japão
dedicados à Hachiman.
Na China temos o culto a Guan Yu,
ou Kwan Kung, um dos guerreiros mais conhecidos da China Antiga. Protetor das
Irmandades e das Artes Marciais e inventor do Guan Dao, uma das armas mais
comuns nas escolas de Kung Fu, que segundo a lenda pesava 50 quilos na sua
forma original.
Ainda hoje é comum nas escolas
tradicionais de artes marciais manter um altar dedicado ao(s) mestre(s)
fundador(es) do estilo ali ensinado.
Na ficção temos inúmeros exemplos
que se encaixam no arquétipo do guerreiro. Conan, o Bárbaro Cimério e Rei da
Aquilônia. Os Cavaleiros de Rohan e o Guerreiro e Rei Aragorn, da mitologia de
Tolkien. O Rei Arthur e Os Cavaleiros da Távola Redonda. E muitos outros.
Quais as características que
esses mitos têm em comum? A coragem, a força, a resistência, a estratégia, o
poder de liderança, o poder de governar, o poder de executar a lei e
principalmente o poder de destruir os obstáculos.
Como vimos no post A Força
Interior, todos nós temos a capacidade de trazer à consciência e manifestar
qualquer arquétipo que desejarmos. Todos nós temos um guerreiro dentro de nós.
O papel da mitologia é nos dar símbolos e caminhos para conhecer essa parte de
nós mesmos. Se você tiver a necessidade e quiser, você pode invocar e
manifestar o poder de Thor para derrotar um gigante de gelo. Ou pode invocar e
manifestar Marte para organizar seus recursos, fazer um plano de ação, destruir
os obstáculos que te atrapalham e executar esse plano, atingindo o seu
objetivo. O símbolo é só uma maneira de te ajudar a ter consciência de uma
força que já existe em você mesmo.
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