terça-feira, 25 de dezembro de 2018

O Culto aos Guerreiros Ancestrais





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O Guerreiro
Publicado em março 30, 2013por L. F. Barbosa Silva
Hail, Heroes!

Hoje iremos estudar o arquétipo do Guerreiro. Caso você ainda não esteja familiarizado ao conceito de arquétipo, recomendo, para uma melhor compreensão, que leia o texto Introdução ao Monomito e à Arquetipologia antes de prosseguir.



O culto ao arquétipo do guerreiro está presente em todas as formas de mitologia e religiosidade. Atributos como força, agressividade, coragem e persistência são aspectos inerentes aos seres humanos e extremamente necessários para a sobrevivência. Sobretudo nas épocas e nos lugares onde a qualquer momento a sua vila poderia ser invadida por uma horda bárbara. Se você quisesse manter a sua cabeça no lugar era melhor saber como manejar uma espada ou uma lança.
A arma de guerra mais primitiva da qual temos conhecimento é a lança. Evidências arqueológicas encontradas na Alemanha, provam que lanças de madeira eram usadas para a caça e pesca há cerca de 400 mil anos. É provável (e lógico) que esse tipo de artefato também fosse usado em combates e na defesa de território. Estudos sugerem que essa tecnologia foi desenvolvida pela primeira vez há 500 mil anos por indivíduos da espécie Homo Heidelbergensis, ancestrais do Homo Sapiens e do Homo Neanderthalensis, sendo estes os primeiros a fabricar lanças com pontas de pedra há cerca de 300-250 mil anos.
As primeiras espadas começaram a ser desenvolvidas na Era do Bronze, por volta do terceiro milênio antes de Cristo. A arma mais antiga parecida com uma espada foi encontrada na região de Arslantepe, Turquia, em 3.300 a.C., no entanto é geralmente considerada uma espécie de adaga longa. Espadas de bronze eram raras e não muito práticas, uma vez que quando mais longo, mais o bronze tende a se curvar. Na China a produção de espadas começa na Dinastia Shang (1600 a.C. – 1046 a.C.) e a tecnologia de manufatura  em bronze alcança seu auge nas guerras entre os estados na Dinastia Qin (221 a.C. – 207 b.C.), sendo substituída pelo ferro somente da Dinastia Han (206 a.C. – 220 d.C.). Ainda na Era do Bronze, machados começaram a ser introduzidos como arma de infantaria, sendo usados principalmente quando se sabia que o oponente vestiria armaduras pesadas.  O uso de ferro nas armas de guerra tornou-se comum durante a Antiguidade Clássica. A espada grega Xiphose a Gladius romana são exemplos de espadas do período. Só na Idade Média espadas de aço temperado começaram a ser fabricadas, se popularizando a partir do século X na Europa e na Escandinávia. Nessa mesma época as espadas japonesas começam a ganhar sua forma definitiva de manufatura no período Jokoto (900 a.C.), embora o nome Katana só venha a ser usado pela primeira vez no século XII. E assim a espada foi evoluindo até chegarmos aos Sabres de Luz dos Cavaleiros Jedi. Pra quem quiser saber mais sobre a história da espada, esgrima e forja eu recomendo o documentário Reclaiming the Blade.
Me alonguei um pouco falando sobre a história do desenvolvimento da espada porque, afinal, esta arma é o maior símbolo do herói guerreiro. A espada é o símbolo de que o Guerreiro tem o poder de proteger, de governar e de destruir qualquer obstáculo que se coloque em seu caminho. A espada tem o poder sobre a vida e a morte. Poder que deve ser utilizado com muita sabedoria e responsabilidade. Por isso é comum em todas as épocas e lugares que os guerreiros mais importantes e os oficiais dos exércitos fossem instruídos não só nas artes da guerra, mas também em filosofia, história, religião, geografia, economia, eloquência e legislação. Ou seja, todas as artes necessárias para manter a ordem e conduzir o estado. É comum que os Deuses da Guerra também sejam Deuses das Leis e da Estratégia. Stratos em grego significa “Exército” e Agos significa “Liderança”. Desse modo vemos que, para superar as dificuldades, o guerreiro não utiliza somente a força bruta, mas também seu poder de raciocínio para organizar o seu método de ação e utilizar seus recursos com a maior eficácia possível.
Vamos conhecer algumas divindades de mitologias distintas que representam simbolicamente o arquétipo do guerreiro.
Ares, era o Deus Olímpico da Guerra, mas durante a antiguidade na Grécia seu culto era mais associado à Batalha em si. Sendo os trâmites legais, a diplomacia e a estratégia atributos de Atena. Enquanto Atena era invocada pelos políticos e estrategistas, Ares era invocado pelos generais e pelos soldados no campo de batalha.
O equivalente romano para o Ares grego é Marte. No entanto o Marte romano também tinha outros atributos além do poder de destruição. Era também considerado um Deus da agricultura, da fertilidade e da virilidade. Enquanto o Ares grego era visto somente como um guerreiro bruto e excessivamente violento, o Marte romano era visto como uma deidade mais sublime. A estratégia e as leis também faziam parte dos seus domínios. Para os romanos Marte era o segundo Deus mais importante, depois de Júpiter.
Ainda em Roma temos o culto à Mithra, uma divindade solar persa que viria a ser adotada pelos romanos. O culto iniciático dos mistérios de Mithra se difundiu amplamente entre os militares.
Na Mitologia Nórdica/Germânica/Escandinava podemos colocar Thor e Tyr como os principais Deuses associados à batalha e à guerra. Thor é o Deus do Trovão, do Relâmpago, das Tempestades, do Carvalho, da Cura e da Fertilidade, sendo também considerado o protetor da raça humana, pois é o responsável pela destruição dos gigantes. Tyr é o Deus da Lei, da Glória na Batalha e do Heroísmo, por ter sacrificado sua mão direita para que o lobo Fenrir pudesse ser aprisionado. Numa tentativa de sincretizar os Deuses Romanos com os Deuses Germânicos, Tacitus comparou Odin com Mercúrio, Thor com Hércules e Tyr com Marte. Mas o fato é que na hora da batalha os guerreiros nórdicos invocavam essas três divindades com clamor pedindo proteção, força e vitória.
Divindades femininas relacionadas à guerra também são comuns. Além da já citada Atena dos gregos, temos na Mitologia Nórdica as Valquírias, que decidiam quais soldados viveriam, quais morreriam e aos quais seria permitida a entra em Valhalla. No Egito, Sekhmet, a Deusa Leoa da Guerra e da Cura, também considerada uma Deusa Solar, conta-se que sua respiração criou o deserto. Na Mitologia Celta temos Morrighan, Senhora dos Corvos e dos Lobos, que é frequentemente associada à morte violenta e à batalha.
Na Mitologia Africana o arquétipo do guerreiro é representado por Ogum, Orixá do Fogo, dos Metais e das Lutas. Considerado aquele que executa as leis divinas.
Nas mitologias orientais é comum o culto aos ancestrais. Além dos Deuses que geralmente representam forças da natureza antropomorfizadas, vemos com frequência o culto a guerreiros que viveram entre os humanos e que após a sua morte ascenderam à níveis divinos.
No Japão, existe o culto a Hachiman, Protetor dos Arqueiros e dos Guerreiros. É um culto que mescla a religiosidade xintoísta e budista, entre os budistas ele é cultuado como um Bodhisatva, um Iluminado. Hachiman era um ancestral do clã Minamoto. Seu nome era Minamoto no Yoshiie, mais tarde adotou o pseudônimo de Hachiman Taro Yoshiie. Graças a sua capacidade de liderança e o poder militar que alcançou, tornou-se conhecido e admirado por todos, sendo homenageado nos rituais xintoístas de culto aos ancestrais. Quando Minamoto no Yoritomo tornou-se shogun, a popularidade de Hachiman cresceu entre a classe samurai, sobretudo entre os guerreiros que serviam diretamente ao shogun. Mais tarde seu culto se espalhou por todo o Japão, sendo invocado não só por guerreiros, mas também por camponeses que buscavam sua proteção. Hoje existem 25 mil templos xintoístas no Japão dedicados à Hachiman.
Na China temos o culto a Guan Yu, ou Kwan Kung, um dos guerreiros mais conhecidos da China Antiga. Protetor das Irmandades e das Artes Marciais e inventor do Guan Dao, uma das armas mais comuns nas escolas de Kung Fu, que segundo a lenda pesava 50 quilos na sua forma original.
Ainda hoje é comum nas escolas tradicionais de artes marciais manter um altar dedicado ao(s) mestre(s) fundador(es) do estilo ali ensinado.
Na ficção temos inúmeros exemplos que se encaixam no arquétipo do guerreiro. Conan, o Bárbaro Cimério e Rei da Aquilônia. Os Cavaleiros de Rohan e o Guerreiro e Rei Aragorn, da mitologia de Tolkien. O Rei Arthur e Os Cavaleiros da Távola Redonda. E muitos outros.
Quais as características que esses mitos têm em comum? A coragem, a força, a resistência, a estratégia, o poder de liderança, o poder de governar, o poder de executar a lei e principalmente o poder de destruir os obstáculos.

Como vimos no post A Força Interior, todos nós temos a capacidade de trazer à consciência e manifestar qualquer arquétipo que desejarmos. Todos nós temos um guerreiro dentro de nós. O papel da mitologia é nos dar símbolos e caminhos para conhecer essa parte de nós mesmos. Se você tiver a necessidade e quiser, você pode invocar e manifestar o poder de Thor para derrotar um gigante de gelo. Ou pode invocar e manifestar Marte para organizar seus recursos, fazer um plano de ação, destruir os obstáculos que te atrapalham e executar esse plano, atingindo o seu objetivo. O símbolo é só uma maneira de te ajudar a ter consciência de uma força que já existe em você mesmo.


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